EU FUI, EU TAVA

Paguei R$ 120 para encontrar o amor em São Paulo; será que valeu a pena?

Paguei R$ 120 por um encontro às cegas em SP. Conheça o experimento social que mistura vinho, bruschettas e a chance de encontrar o amor.

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Mesa do restaurante Nos.Otros, em Pinheiros; jornalista relata experiência em date às cegas

Publicado em 19/7/2025 - 6h00

São Paulo é uma cidade em que a solidão virou negócio — tanto que empresas como a Confra e a Timeleft ganham cada vez mais espaço. É nesse cenário que o restaurante Nos.Otros, em Pinheiros, promove um experimento social chamado TinderOtros: por R$ 120, você recebe duas taças de vinho, uma porção de bruschettas e um encontro com um completo desconhecido. Sim, nada de nome, foto ou gostos em comum.

A ideia começou com um post no Instagram do restaurante e teve sua segunda edição nesta semana — a primeira ocorreu em junho e reuniu menos de 20 duplas de desconhecidos. Dessas, ao menos uma virou namoro oficial.

Após preencher um formulário com nome, perfil do Instagram (para o restaurante entrar em contato), gênero e orientação sexual, o interessado paga a taxa de R$ 120 e aguarda o match. Com a inscrição confirmada, você chega ao restaurante e é levado pelo garçom até sua mesa.

Quando sua dupla chega, ela também é acompanhada até o local. Só aí você vê a pessoa pela primeira vez, descobre o nome e começa a conversar. Feita a contextualização, é hora de admitir: este não é um relato jornalístico tradicional. E o motivo é simples, eu estava lá!

Se desse tudo errado, seria apenas mais uma história na lista de dates fracassados da minha vida amorosa. Para quem já viu o crush roncar ao ser obrigado por ele a dormir no chão ou teve a árvore de Natal roubada por um ex-affair, era um risco aceitável. Mas se desse certo... bom, seria uma ótima história para contar aos meus futuros filhos, não é mesmo?

Ter companhia ganha outro significado com o tempo. Aos 15 ou 20 anos, fazer tudo sozinho era símbolo de independência. Hoje, aos 25, parece solidão. Sim, vou sozinho ao cinema, a restaurantes, a shoppings. Mas noto os olhares tortos dos outros. E, mais do que isso, sinto falta de dividir a vida com alguém — um tema que, aliás, já entendi na terapia que não é "carência".

Falo com tranquilidade: encontrar um amor em São Paulo parece missão impossível. Quando cheguei aqui, em 2021, era a pessoa desesperada por desencalhar. Acreditava na regra dos três encontros: se até o terceiro a pessoa não me pedisse em namoro, era porque não queria nada sério.

Com o tempo (e um pouco de maturidade), entendi que o "certo" era deixar as coisas fluírem. Sem pressa, sem expectativas. Mas falhei de novo — porque quando nenhum dos dois toma a iniciativa, a história não sai do lugar.

No ano passado, depois de uma avalanche na vida profissional, comecei a enxergar tudo (inclusive minha vida amorosa) como uma meta a ser batida. A de 2025? Namorar alguém até o fim do ano. Então, quando saía com alguém, deixava claro: não estava ali para o "nada sério, porém depende". Queria um relacionamento de verdade. Esse alinhamento de expectativas foi interpretado, por mais de uma pessoa, como se eu tivesse apontado uma arma e dito: "Ou você me pede em namoro, ou eu te mato".

Sei que não sou um Igor Cosso, Bruno Gadiol ou Hugo Bonemer da vida. Mas cozinho, lavo, passo, passei no vestibular aos 15, me formei com 19, tenho independência financeira desde os 21, sei tudo de novelas e realities duvidosos e, segundo meus amigos, minha amizade é de milhões. Então sim, acho que sirvo como conchinha nas noites geladas.

Depois de alguns minutos sozinho na mesa, meu match chegou: um administrador de 27 anos, do universo das startups. Pela idade, não seria alguém com quem eu daria match no Tinder, mas isso não atrapalhou. Descobrimos gostos musicais em comum, rotinas completamente diferentes e muita empatia.

Não vi aquelas duas horas passarem. Além da comida e do vinho estarem excelentes, a companhia foi ainda melhor. Faltou o beijo de despedida? Sim. Mas faz parte do jogo. Agora, é torcer por um segundo encontro. E, se não rolar, tudo bem — pelo menos você ganhou uma boa história para ler neste sábado.


* As opiniões escritas pelo autor não refletem, necessariamente, o posicionamento do Economia Real.

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