FEBRE NOS ANOS 1960

Como uma morte na TV atrapalhou o lançamento desse brinquedo

Como Marvin Glass transformou uma tragédia no boxe em um dos brinquedos mais icônicos dos EUA: a história do Rock'Em Sock'Em Robots e do jogo Operando.

Publicado em 19/7/2025 - 7h00

Em meio ao luto nos Estados Unidos pela morte do boxeador Davey Moore (1933–1963) durante uma luta transmitida ao vivo pela televisão, um brinquedo inspirado no boxe quase foi proibido de chegar às lojas. Mas uma ideia criativa de Marvin Glass (1914–1974) mudou tudo e transformou o Rock'Em Sock'Em Robots em uma febre entre a geração baby boomer.

"O boxe, na década de 1960, era popular porque era exibido na televisão. O elemento gladiatório da luta sempre atraiu os seres humanos e, naquela época, pela primeira vez, aquilo podia ser visto na sala de estar", explica Jeremi Suri, professor de História da Universidade do Texas, no documentário Brinquedos que Mudaram o Mundo, do History Channel -- confira a atração no vídeo disponível no começo da reportagem.

Glass e sua equipe passaram meses no desenvolvimento do protótipo do brinquedo, mas a comoção pública pela morte de Moore forçou o descarte da primeira versão, que trazia lutadores humanos. Diante do impasse, Glass teve uma sacada: desumanizar os personagens.

Em vez de boxeadores reais, o jogo teria robôs como protagonistas. Assim nasceu o Rock'Em Sock'Em Robots, lançado em 1964 pela fabricante Marx. A aposta foi certeira: o brinquedo virou um clássico da história dos brinquedos nos EUA, imortalizado pela frase "Você destruiu a defesa dele!".

O sucesso consolidou Glass como sinônimo de inovação. Nos bastidores, no entanto, quem mais contribuía com as criações era Burt Meyer, principal mente criativa da empresa. Em busca de reconhecimento, Meyer ameaçou sair — e Glass respondeu com estratégia: dividiu o poder e o promoveu a sócio, repetindo o gesto com outros talentos promissores.

Marvin era inteligente. Tornou Burt sócio e dividiu a empresa com quem aparecia com boas ideias", lembra Jeffrey Breslow, ex-sócio da Marvin Glass & Associates, no mesmo documentário.

Para cultivar ideias revolucionárias, Marvin criou um complexo de salas dedicadas à invenção de brinquedos. Foi nesse espaço que um jovem chamado John Spinello apresentou uma proposta ousada: um jogo que dava pequenos choques nas crianças. Glass viu potencial, pagou US$ 500 pela patente e prometeu a Spinello uma vaga em sua equipe.

Segundo Breslow, o jogo (originalmente chamado Vale da Morte 1) desafiava os jogadores a encontrar água em um deserto fictício, usando uma sonda elétrica sem encostar nas bordas dos poços. A ideia foi licenciada, reformulada e relançada como o clássico "Operando". A sonda virou pinça, o deserto deu lugar ao corpo humano e o choque foi substituído por um alarme sonoro.

Mesmo com as mudanças, a essência da criação se manteve. Embora Spinello tenha ficado fora do contrato final, o jogo se tornou um dos maiores sucessos da carreira de Glass, com bilhões de unidades vendidas desde 1965. Como intermediário estratégico, Marvin Glass colheu os maiores frutos.

A história vai além de um brinquedo icônico. É um caso de como transformar boas ideias em grandes negócios. Na indústria global de brinquedos, poucos nomes brilharam tanto quanto Marvin Glass — um visionário que soube enxergar oportunidades, redesenhar conceitos e construir impérios com criatividade.

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