VALE A PENA?
Brasileiros são atraídos por salários em dólar na Guerra da Ucrânia. Promessas não cumpridas e drama familiar expõem riscos e omissões no conflito.
REPRODUÇÃO/RECORD
Wagner Vargas, brasileiro desaparecido na Ucrânia; ex-pedreiro recebeu proposta em dólar
Publicado em 14/7/2025 - 12h03
Atualizado em 14/7/2025 - 12h26
Atraídos pela promessa de salários em dólar que chegam a R$ 26 mil por mês, brasileiros têm se alistado como voluntários na guerra da Ucrânia. Mesmo sem formação militar, profissionais como pedreiros e garçons arriscam a própria vida no campo de batalha — e isso tem gerado um imbróglio internacional que impacta diretamente suas famílias no Brasil.
"É assinado um contrato que estipula esses valores astronômicos, mas o soldado não recebe uma via; o único documento fica com o governo da Ucrânia. Como é uma promessa pública, a Ucrânia reconhece a dívida. No entanto, por estar em estado de guerra, nunca efetiva o pagamento", explica o advogado Igor José Ogar em entrevista ao Domingo Espetacular, da Record, exibido no último domingo (13).
Ogar representa a família de Jefferson da Silva Jacob, ex-garçom e pai de duas meninas, que morreu em 31 de dezembro de 2024. Ele estava desempregado e, no mês anterior, havia deixado a família no Brasil com a esperança de conquistar estabilidade financeira.
"No dia 2 de janeiro, um soldado que estava com ele na linha de frente me ligou e contou que ele foi atingido na virilha. Não consegui vê-lo de novo, nem morto, para ao menos enterrá-lo. Vivo um luto que não consegui processar até hoje e talvez nunca consiga", relata Lizlane Paula Silva, irmã do ex-garçom.
Casos como o de Jacob se repetem em razão das promessas feitas pelo governo ucraniano aos combatentes estrangeiros: salários mensais em dólar que variam de US$ 550 (cerca de R$ 2,9 mil) para funções administrativas até US$ 4,8 mil (cerca de R$ 26 mil) para quem atua na linha de frente. Há ainda a promessa de indenização por morte, que pode chegar a R$ 2 milhões.
Segundo o site oficial do Ministério da Defesa da Ucrânia, o pacote de benefícios inclui pagamentos mensais às famílias de soldados desaparecidos até que a morte seja confirmada.
No entanto, o processo exige a abertura de contas bancárias na Ucrânia e o envio de documentos, o que dificulta o acesso de parentes no Brasil. "O governo ucraniano é omisso a ponto de não informar que não pagou e que não há previsão para isso", reforça Ogar.
Outro caso apresentado na reportagem é o de Wagner da Silva Vargas, que está desaparecido desde 27 de junho. Ex-pedreiro no interior do Paraná, Wagner se alistou como voluntário e sumiu após um combate.
Maria de Lourdes Vargas, mãe do soldado, foi informada do desaparecimento por mensagem enviada por um representante brasileiro na Ucrânia. "Sinto que ele está vivo, mas posso receber uma notícia ruim a qualquer momento. Faço tudo isso para tentar acalmar meu coração", diz ela.
Em nota enviada à Record, a Embaixada da Ucrânia informou que não participa do recrutamento de brasileiros e que, em caso de morte ou desaparecimento, comunica a Embaixada do Brasil em Kiev. Esta, por sua vez, orienta as famílias sobre os procedimentos para solicitar indenização militar.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil também esclareceu que o alistamento de brasileiros na Guerra da Ucrânia não depende de autorização nem de conhecimento prévio do governo. Segundo o Itamaraty, até o momento, nove brasileiros morreram e 16 estão desaparecidos no conflito. O órgão afirmou que segue acompanhando os casos de Wagner e Jefferson e presta apoio consular às famílias.
Confira a reportagem completa no vídeo a seguir: